terça-feira, 14 de setembro de 2010

A aroeira verga, mas não quebra


“Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião”
Meu pai um imigrante italiano, que chegou ao Brasil com 13 anos em 1912, voltou à Itália para combater Mussolini.
Minha mãe, uma baiana retada, era uma getulista de quatro costados. Menino, a vi encarar Carlos Lacerda algumas vezes no Centro do Rio de Janeiro.
Cresci na Esplanada do Castelo, centro nervoso da política carioca. Tinha seis anos quando Getúlio deu um tiro no peito.
Pelas mãos de minha mãe, acompanhei o cortejo que levou o caixão com o corpo de Getúlio, do Palácio do Catete ao Aeroporto Santos Dumont, onde foi embarcado para ser enterrado em São Borja.
Em 31 de março de 1964, vi a Polícia da Aeronáutica ocupar as ruas, praças e prédios públicos da Esplanada do Castelo, entre eles a Faculdade Nacional de Filosofia, a sede do IBGE, os ministérios da Educação, da Fazenda e o legendário restaurante do Calabouço.
Não foi uma ocupação pacifica como muitos afirmam, correu sangue, inclusive o meu.
Em 1968, como um dos líderes do Movimento dos Vestibulandos, enfrentei no pátio da Reitoria da UFRJ, na Praia Vermelha, o ministro da Educação Tarso Dutra, fui preso e espancado no Estádio do Botafogo junto com centenas de companheiros.
Entre 1968 e 1969 tive participação ativa no movimento estudantil carioca.
Bati, apanhei, fui preso, prestei depoimento no prédio do antigo Ministério da Guerra, verguei, mas não quebrei.
A barra pesou. Mandei-me para o Nordeste, onde estou até hoje.
Mas, poderão dizer os navegantes dessas linhas. E nós com isso?
É que hoje mando um recado cifrado a um determinado endereço, no qual convivem pessoas que não prezam a liberdade de expressão e de opinião, mas que estão constrangidas por que foram pegos com a mão na botija.
É por isso que abri o texto com versos de Zé Kéti e encerro dizendo que o vento sopra forte, a aroeira verga, mas não quebra. (Chico Bruno-Postado em 14/09/2010,às 12:21h)

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