domingo, 26 de setembro de 2010

Entrevista: Ernesto Paglia

As emoções do repórter que percorreu o país

Ernesto Paglia quer saber como afia o facão usado para cortar cana-de-açúcar. Um trabalhador pega o instrumento, mais um pedaço de ferro e começa o trabalho. O repórter fica atento ao movimento, assim como às unhas bem pintadas de uma das 11 mulheres que dividem com dezenas de homens o trabalho num canavial de Lençóis Paulista, interior de São Paulo, a 23acidade visitada pela equipe do JN no Ar, na última sexta-feira. Desde 23 de agosto, quando o projeto estreou em Macapá, Paglia e mais sete profissionais viajam o país a bordo de um avião. Aliás, dois. Além do jato, tem um modelo Caravan, usado para pequenas distâncias, muitas vezes resolvidas dentro de vans

O GLOBO: Depois de 23 estados visitados pelo JN no Ar, qual sua percepção sobre o Brasil? ERNESTO PAGLIA: Tem um inegável crescimento econômico que leva algumas facilidades a cidades distantes que a gente nem suspeitava no passado. É o celular, a internet quase onipresente no país. Em alguns lugares, ela chega lenta, mas está lá. Como em Tefé (AM), por exemplo, onde um link de 1 mega custa R$ 14 mil porque é via satélite. A mesma conexão pela qual se paga, em São Paulo, R$ 0,90 na banda larga, lá só um provedor local pode comprar e redistribuir a R$ 140.

Há uma fotografia que revela esse crescimento? PAGLIA: Você vê o crescimento da frota de veículos e motos por toda a parte, o que é um denominador comum no país. São sintomas de crescimento econômico, em regiões de pleno emprego. Há polos universitários surgindo no interior de Rondônia, com 7 mil estudantes.

E de onde partem os exemplos mais positivos? PAGLIA: As pessoas buscam compensar os problemas com soluções criativas. Organizações espontâneas, empresas que se envolvem no cuidado com o meio ambiente. Ou seja, existe um país em pleno momento de crescimento e que ainda carece de infraestrutura. Em alguns momentos ainda vem à mente a velha expressão do gigante com pés de barro.

Você acha que está mais evidente essa linha imaginária que divide o país entre quem mora no Sul e quem mora no Norte? PAGLIA: Está mudando. Porém, a carência de infraestrutura é muito maior em estados menos desenvolvidos. A gente vai ao interior de Mato Grosso e do Amazonas e percebe isso. Tefé, por exemplo, uma das cinco maiores cidades do Amazonas, convive com apagões desde abril. A cidade ainda depende da energia dos geradores a diesel. E dos 12 geradores, dois estavam quebrados desde maio. O pessoal tem sério problema de energia. (Flávio Freire em O Globo)

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