sábado, 1 de outubro de 2011

Artigo

EU SOU DE UM PAÍS QUE SE CHAMA PARÁ

Lucinha Bastos

Vou direto ao ponto: oponho-me publicamente à divisão territorial do Pará. E enumero, aqui, nessa crônica que modestamente escrevo, os meus argumentos. Em primeiro lugar, sou apaixonada pelo meu Estado e não vou desistir dele. Acho que a matemática agora, mais do que nunca, é a da adição. Partilho da opinião de que juntos e unidos somos muito mais fortes. Minha carreira de mais de 30 anos está aí para comprovar essa paixão. Não é de hoje que divulgo e valorizo a cultura do estado, representando dentro e até fora do país o meu Pará.
A nossa força está em nossa diversidade. A nossa riqueza vai muito além dos minérios e da floresta. O povo do Pará é a maior riqueza e essa é a que mais me interessa. Não acredito que esta separação vá deixar todos os filhos igualmente protegidos e fortalecidos.
Uma decisão como esta, de dividir um Estado, é seriíssima. O voto é algo sério. Através dele, destina-se a vida de muitos. Se hoje eu votar em um político e este, por suas ações, me decepcionar, ele jamais terá meu voto novamente. E a divisão? E se não der certo? Não há como voltar atrás. Estamos falando de uma população que merece dignidade sim, melhorias sim, mas, acima de tudo, respeito. Peço às pessoas que procurem se informar, leiam, perguntem, debatam e, num sopro de dúvida ou insegurança, votem NÃO.
Como disse Amarilis Tupiassu: “O retalhador do Estado (dos outros) chega e se espalha feito água. Abanca-se, invade a cozinha, destampa, tem o desplante de meter o dedo na panela, antes do dono da casa, lambuza as mãos, lambe os dedos.” Não vou generalizar. Apesar “desses de fora” estarem à frente da luta pela divisão, temos que lembrar e respeitar os que vieram e contribuíram para o crescimento de nosso Estado. Conheço pessoas de fora que construíram suas vidas aqui e se consideram mais paraenses do que muitos dos nossos conterrâneos (que também estão agora olhando para seu próprio umbigo, vendo seus interesses pessoais, e não os de seu povo). Esses interesses, escondidos atrás de um patriotismo mentiroso de alguns, independem da naturalidade ou da nacionalidade.
Agora é fato que o homem, em busca de riquezas materiais e poder, vem perdendo a lucidez há tempos. O conceito de animais racionais e irracionais precisa ser revisto urgentemente.
A letra da música do Mosaico de Ravena é atual porque infelizmente muitos ainda não nos levam a sério. E temos uma parcela de culpa nisso. De certa forma, evitamos tropeçar nos jacarés porque, com nossa cordialidade, deixamos que as pessoas cheguem e delimitem espaços que são nossos. Nós nos acocoramos aos que vêm de fora sempre nos subestimando, achando que sabemos e podemos menos.
O Nortista só vai fazer parte da Nação quando tiver orgulho de si; quando der importância a sua História. Quem manda na minha casa sou eu. Ninguém vai me dizer ou me obrigar a ser outra coisa que não sou. Sou Paraense e cidadã Brasileira.
Meu amado Billy Blanco escreveu: “Numa prisão, na igreja ou na rua / uma canção tem força de uma prece / não haverá no mundo quem destrua / morre o cantor e o canto permanece... Um cantador não para só morrendo / mas a canção revive sua memória / ele renasce a cada momento / porque seu canto é parte da história...
Acho que os paraenses estão discutindo, sim. Há muitas perguntas que precisam de respostas sérias, objetivas e fundamentadas. A criação dos dois Estados gera criação de mais cargos. Governadores, senadores, deputados federais, secretários, assessores...
O paraense precisa e já está questionando a quem interessa tudo isso? Quem vai arcar com as despesas dos novos Estados, que vão ter que pagar o salário de tanta gente em vez de usar esse dinheiro para investir em saúde e educação? Vocês sabem quanto custa criar um Estado? Com quem vai ficar essa dívida toda?
Agora, infelizmente, penso que muitos ainda não têm a mínima ideia do desastre que essa divisão pode acarretar na vida de cada um. Não falo isso como estudiosa de Economia ou de Ciências Políticas. Não sou especialista em nenhum desses ramos. Falo como leiga, mas, acima de tudo, como cidadã interessada nos assuntos que dizem respeito ao povo. Tenho lido relatórios e estudos de quem entende e os números são assustadores. A população precisa ter mais conhecimento sobre esses aspectos.
Na verdade, já me manifesto quanto a esse tema há muito tempo. Tem um vídeo no Youtube, que gravei no outro governo de Simão Jatene, no qual me posiciono totalmente contra a divisão do nosso território estadual. Nos shows, e sempre que possível, falo: quero meu Pará Grande. Que fique claro, porém, que respeito e sempre respeitarei as opiniões diversas. Afinal, nisso está o mais belo exercício do que chamamos de democracia.

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