terça-feira, 15 de novembro de 2011

Eles não querem o Pará em Pedaços

Paraenses célebres divergem sobre possível divisão do Pará
MAÍRA TEIXEIRA
DE SÃO PAULO

No próximo dia 11 de dezembro os eleitores do Pará irão às urnas para decidir se o Estado deve ou não ser dividido, em um plebiscito que pode mudar o mapa do Brasil. A Folha consultou paraenses famosos para saber a opinião deles e os argumentos a favor ou contra a divisão.
Embora tenha se mudado para o Rio ainda bebê, a atriz Rosa Maria Murtinho, 75, que estrelou novelas como "Mandala" e, mais recentemente, "O Astro", afirma ser contra a divisão e acha que os argumentos de quem defende a partilha são desculpas para parlamentares trabalharem menos e dar mais despesas à União.

Atriz Rosa  Maria Murtinho

"É um absurdo dizer que a distância de Belém até Brasília influencia a divisão. Existem outras capitais mais longe do que Belém e nem por isso estão propondo o mesmo", reclama Rosa Maria, nascida em Belém, a capital paraense.
"Deputados e senadores devem trabalhar mais em Brasília pelo Estado. Quando vem a base é para aparecer, ir a festas, não é para trabalhar. Isso tem de mudar porque as reportagens mostram os plenários do Congresso vazios. Eles deviam trabalhar mais ao invés de propor a divisão do Estado. Isso não é uma demanda do povo, não é legítimo e o Brasil não aguenta mais despesa. Essa discussão tira o foco de questões importantes."

Cantora Fafá de Belém

A cantora Fafá de Belém, um dos ícones da campanha das Diretas Já, na década de 1980, também é contra. "Eu sou de um país que se chama Pará! Não acredito que se possa dividir um povo e seu sentimento."
Para ela, esse movimento está sendo feito para satisfazer a "ganância e a vaidade" de quem não tem compromisso com o Estado e os paraenses. "Os interessados na divisão são aqueles que não têm compromisso com essa terra, que não têm uma família que mora em Santarém ou Marabá e veio para Belém estudar, e aqui criou laços, uma nova família."
Fafá, assim como a banda Calypso, de Joelma e Chimbinha, devem ser convocados para participarem da campanha contra a divisão. Procurado pela Folha, no entanto, o casal não respondeu as solicitações da reportagem para opinarem sobre o tema.

Cantor Beto Barbosa

Outro cantor, Beto Barbosa, famoso pelo hit brega "Adocica", diz ser a favor da divisão. Para ele, o interior do Estado vai ser beneficiado por uma eventual criação de Tapajós e Carajás, os Estados que serão criados caso a população aprove a divisão.
"Quem vive no interior quer a divisão porque a administração fica centralizada na região de Belém. Minha visão é para o Estado todo não só para a capital", diz Barbosa.
Para Barbosa, com a divisão, o interiorano se beneficiará. "O Estado ganharia, especialmente, para quem não mora na região de Belém. Toda divisão é sofrida, tem período de adaptação, mas deve crescer depois. Porque hoje Estado é muito grande e mal administrado. Falta saneamento em quase todo o interior, por exemplo", diz o cantor, que também nasceu na capital.
O cantor lembra do surgimento do Tocantins como um exemplo para os novos Estados que podem surgir. "Eu que viajo muito pelo Pará, e todo o Brasil, vi como Palmas, capital do Tocantins, se desenvolveu muito depois da divisão. As pessoas vivem melhor depois da divisão. Mas acho natural que tenha resistência."
Jogador do Santos Paulo Henrique Ganso

No campo esportivo, o jogador Paulo Henrique Ganso, do Santos, que é de Ananindeua, na região de Belém, já se manifestou publicamente contra a divisão. Ele vestiu uma camiseta com uma bandeira do Pará no jogo em que o seu time conquistou a Libertadores, em junho. Mas, segundo sua assessora de imprensa, ele evita dar entrevistas sobre o tema.
Outros paraenses célebres, como os atores Lúcio Mauro, Dira Paes e o estilista Lino Villaventura, também foram procurados, mas preferiram não se posicionar sobre a questão.
PROPOSTA
Na votação, cerca de 4,6 milhões de eleitores paraenses vão decidir se o Pará vai se desmembrar e dar origem a dois outros Estados: Tapajós (oeste do atual Estado) e Carajás (sul). O Pará remanescente da divisão ficaria com 17% de sua atual extensão territorial.
O STF (Supremo Tribunal Federal) definiu no dia 24 de agosto que toda a população do Pará deve ser ouvida no plebiscito sobre a divisão de sua área para a criação de Tapajós e Carajás, e não só a parcela dos cidadãos que poderá integrar os novos Estados.
O Supremo entendeu que todos que hoje vivem no Pará serão diretamente afetados com a possível criação dos novos Estados e, portanto, devem se pronunciar. 

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