sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Não quero Dilma como mãe

Jânio Ferreira Soares*

Na frente em todas as pesquisas e muito próxima de ser a primeira mulher a presidir o País, Dilma Rousseff anda dizendo que será a mãe do povo brasileiro.

Não sei você, mas desde já agradeço a nobre intenção genitorial da candidata e adianto que estou muito satisfeito com os préstimos maternais de dona Cecília, quase 90 de idade e sempre com um lindo sorriso emoldurado por vasto cabelo preso em coque, que além de todos os cuidados possíveis ainda me recomenda diariamente a dezenas de santos e, de quebra, faz um bife cozido com batatas que eu duvido que a pretendente a mãe do Brasil seja capaz. Portanto, caso realmente insista nessa onda de consanguinidade, concedo a dona Dilma, no máximo, a chance de ser minha madrinha de crisma ou minha comadre de fogueira de São João.

Nunca simpatizei com políticos que se arvoram protetores do povo. Além de soar canhestro, essa pseudo paternidade dá a impressão de que somos um bando de crianças sempre na dependência de alguém para trocar nossas fraldas e colocar papinha de maizena na “boquinha do neném”. O que eu espero de um presidente é que ele aja de modo constitucional e republicano, e que assegure os meus direitos.

Que não permita que ladrões invadam o meu quintal e roubem minhas mangas e galinhas; que me guarde dos censores travestidos de democratas que salivam ávidos com a possibilidade de voltar a controlar o que meus olhos veem e minha mente anseia; que, em hipótese alguma, admita a violação dos meus segredos, sejam eles fiscais ou sentimentais (não quero ninguém sabendo detalhes daquele verão de 86 na Ilha de Itaparica); e, caso isto aconteça, que ele jamais se comporte como um militante partidário, mas, sim, como alguém que jurou me proteger contra as mazelas da ditadura.

Agora, se você quiser mesmo chamá-la de mamãe – ou de vovó –, um lembrete: como família não se escolhe, no almoço dominical prepare-se para tomar a bênção e beijar as mãos dos titios Renan e Zé Dirceu, além de beber “gualaná” no colo do vovô Sarney. A sobremesa? Tia Erenice faz um pudim. (Do Jornal A Tarde) * Escritor e Secretário de Cultura de Paulo Afonso.

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